II Semana de Humanidades é aberta oficialmente; oficinas, minicurso, cine debate e palestra movimentam o campus Ouricuri

“Uma homenagem a todas as pessoas que dedicam suas vidas à educação e às artes numa perspectiva libertária, numa conjuntura social e política em que professoras, professores e artistas são perseguidos por representantes do ultraconservadorismo que se instalou no país”. Com essas palavras de louvação, foi aberta oficialmente na noite desta terça-feira (27) a II Semana de Humanidades do campus Ouricuri do IF Sertão-PE. O discurso de abertura, repleto de referências às temáticas que serão aprofundadas ao longo dos quatro dias de evento, reforçou a perspectiva de resistência e provocação que impulsionam a realização da Semana de Humanidades. Em sua segunda edição, a iniciativa objetiva promover um debate aberto e plural sobre a diversidade e as transformações que envolvem a juventude, dando ênfase à contemporaneidade observada a partir da história, da cultura, da política e dos direitos humanos. 

 

A estudante Ana Beatriz de Menezes e o professor Juliano Varela fizeram o discurso de abertura da II Semana de Humanidades

Com o tema “Juventudes Sertanejas e suas metamorfoses contemporâneas”, o evento, realizado por estudantes e servidores do campus Ouricuri, em parceria com o Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP/Recife-PE), contou na manhã deste primeiro dia com as oficinas “Ser a Mídia: Técnicas de comunicação para as juventudes”, mediada pelo jornalista Luis Osete Carvalho, “Arte Urbana: pintura”, com a professora do curso de Artes Visuais da Univasf Clarissa Campello e a licenciada em Artes Visuais Morgana Caroline, “Jogo da política – Judiciário”, com o professor Andrey Borges, e o minicurso “Do verso à significação: leitura de poemas”, com o professor Valter Cezar Andrade Junior. 

O professor Valter Cezar Andrade Junior ministrou o minicurso “Do verso à significação: leitura de poemas”

Mediador do “Jogo da política – Judiciário”, o professor Andrey Borges destacou a finalidade de uma metodologia vivencial que ajuda a compreender o sistema político brasileiro. “O jogo da política tem o objetivo de criar uma oportunidade para que os jovens e adolescentes representem os papeis habitualmente tomados num julgamento, tal seja um juiz, um advogado de defesa ou de acusação, a imprensa, o júri popular. Ao representarem esses papeis, eles assimilam as práticas e ações que são normalmente utilizadas, ou seja, ao invés de aprenderem ouvindo, escutando, devem aprender exercitando, experimentando”, afirmou ele. Foi o que fez o estudante de Licenciatura em Química, Emanuel Gonçalves. Segundo ele, a participação no Jogo da Política foi uma experiência muito proveitosa. “Tivemos conhecimento de como é a organização e os processos de júri popular e isso foi importante para podermos entender mais sobre o Poder Judiciário”, destacou. 

 

Na oficina “Arte Urbana: pintura”, os participantes exercitaram suas produções pintando as paredes do campus

À tarde, foi a vez de entrar em cena a oficina “Lugar de Terra: a arte em cerâmica”, que será ministrada até quinta-feira (29) por Yane Andrade, João Pedro Rodrigues e Luiz Marcelo Barboza, artistas e estudantes do curso de Artes Visuais da Univasf. Inspirada na exposição “Lugar de Terra”, que, além dos artistas citados anteriormente, reúne obras de Déba Viana, Maria Júlia Castro e Sarah Hallelujah, a oficina instiga os participantes a pensarem e produzirem peças de cerâmica a partir da reflexão sobre os múltiplos territórios de atuação, tanto do ponto de vista geográfico, físico, quanto político, afetivo, religioso, imaginário e poético. 

No primeiro dia da oficina “Lugar de Terra: a arte em cerâmica”, já surgiram as primeiras inspirações artísticas dos participantes

Paralelamente à oficina, também ocorreu o Cine debate “Problemas enfrentados pela juventude: um olhar a partir do Youtube”, que teve como debatedores os estudantes do Ensino Médio Integrado, Carla Freitas (Agropecuária 2018), Matheus Lacerda e Michael Cássio (ambos da turma Informática 2017), sob a mediação do professor Andrey Borges. A dinâmica do Cine debate aconteceu por meio da apresentação de vídeos sobre os temas “Estatuto da Criança e do Adolescente”, “Bullying”, “Depressão”, “termo ‘Jovem’” e “(In) Responsabilidades”. A plateia contribuiu com a partilha de experiências e opiniões sobre os temas discutidos. 

Uma das estudantes que partilharam a sua experiência foi a discente do Ensino Médio Integrado em Informática, Sharlane Dias. “Apesar de ser branca, meu cabelo é cacheado por natureza e num determinado momento da vida, seguindo o padrão de beleza imposto pela sociedade, alisei meu cabelo por um longo tempo e, depois de um tempo, refleti e decidi fazer a transição capilar e voltar com os cachos. E com isso aprendi que a pessoa não deve se privar de nada e não ter medo de nada e assumir quem é”, declarou a estudante. Carla Freitas, uma das debatedoras, aprendeu muito com o cine debate. “Eu achei que foi uma boa oportunidade para interagir com a plateia de alunos e professores e pude sentir que todos os presentes aprenderam algo que vão para toda vida e, assim como eu, também aprendi com eles”, destacou ela.

Outro momento de importantes aprendizados foi proporcionado pela Mesa redonda “Cuidado e afetividade no mundo contemporâneo: vínculo social e prevenção ao suicídio”, que contou com as exposições do psicólogo do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do município de Santa Cruz-PE, Gledson Wilber de Souza, e do estudante de Edificações do campus Ouricuri, Matheus Alves, com a mediação do professor Juliano Varela. 

A Mesa redonda “Cuidado e afetividade no mundo contemporâneo: vínculo social e prevenção ao suicídio” contou com ampla participação de estudantes da rede pública de Ouricuri

Na pauta, a discussão do suicídio e da solidão em seus contextos sócio-históricos e multifatoriais. “Nós somos seres biopsicossociais e, por isso, a sociedade em que estamos inseridos vai influenciar em nossa saúde mental. O racismo, a homofobia, o machismo e a desigualdade social são alguns condicionantes que influenciam na saúde mental. Quando a gente fala de suicídio, precisamos levar em consideração esses aspectos multifatoriais, que contribuem na construção histórica de violências cotidianas”, ressaltou o psicólogo Gledson. 

A apresentação do Espetáculo teatral “E hoje em dia como é que se diz eu te amo?” foi inspirada em canções da banda Legião Urbana  

São justamente os jovens os mais impactados pelos efeitos da desigualdade social, do medo, da violência e da onda ultraconservadora que tomou as ruas do país. “Como destruir as opressões que estão postas? Como construir esperanças, possibilidades, alternativas?” São alguns questionamentos que impulsionam a realização da II Semana de Humanidades. E, como não poderia deixar de ser, as respostas surgem também em apresentações artísticas, como pode ser experimentado pelo público presente nesta noite, ao presenciarem o Espetáculo teatral “E hoje em dia como é que se diz eu te amo?”, criação coletiva do Grupo Artimanha de Teatro, de Bodocó-PE e a Banda Lécio Lima dos Santos, da Escola Fernando Bezerra. 

Gratuita e aberta ao público, a programação completa da II Semana de Humanidades do campus Ouricuri pode ser conferida aqui

Fotos: Lídio Parente
Texto: Luis Osete e Felipe Piauilino
Com a colaboração dos estudantes Aianne Vivian, Camila Mairins e Gemerson